A análise de riscos na prevenção da saúde do trabalhador

A análise de riscos na prevenção da saúde do trabalhador

23.04.2020

Paulo Ricardo do Nascimento e Paulo Rocha*
 

Sempre que o tema "proteção ao trabalhador" vem à tona, logo relacionamos o assunto aos EPIs (Equipamentos de Proteção Individual). Neste mês, o Abril Verde, no qual se atenta para a importância da vida e da segurança do trabalhador, nada mais justo do que destacar a relevância das vestimentas para garantir o bem-estar e a saúde dos colaboradores. Como gestores, porém, não podemos nos esquecer de que o EPI é, na verdade, um dos últimos elos da longa cadeia que envolve a segurança no trabalho - mesmo porque vestimentas, como macacões, luvas, capacetes e botas, não necessariamente evitam o acidente, mas as consequências dele.
 

Dentro de um amplo projeto de mudança em nossa cultura organizacional, a Montana Química reforçou, neste ano, o seu Programa de Elaboração de Análises de Risco, que já vinha sendo trabalhado de forma mais pontual nos últimos anos. É sobre este case que vamos tratar este artigo, mas antes, gostaríamos de fazer uma breve apresentação da nossa empresa. A Montana Química é uma jovem multinacional brasileira, há 67 anos referência no país em tratamento e preservação de madeira. Tem unidade de negócios industrial (fornece produtos para a proteção de toras e outros tipos de madeira tratadas na indústria) e de varejo (comercializa produtos aclamados em seus segmentos, como o Osmocolor Stain Preservativo e o Cupinicida Pentox).
 

Nos últimos cinco anos, a empresa tem passado por importantes transformações. Ao definir sua nova cultura organizacional, por exemplo, estabeleceu como missão "preservar o futuro" - não só o futuro do planeta, como também o da empresa, de seus parceiros, de seus clientes e, claro, de seus colaboradores. É nesse contexto que se insere o nosso Programa de Elaboração de Análises de Risco. O projeto busca, com base nas normas legais, detectar particularidades do processo de trabalho para realizar o levantamento de riscos e, consequentemente, ações sistemáticas de prevenção. Essa iniciativa é promovida a nível não só de departamentos, mas de equipes, de forma bem específica.

Para facilitar a compreensão, um exemplo prático. Colaboradores do setor de almoxarifado da empresa recebem constantemente matérias-primas para a fabricação de produtos. O programa identificou que parte dos funcionários estavam adotando posturas inadequadas ao carregar produtos, fruto do peso das embalagens, identificadas como acima do nível adequado para o esforço. A situação era de risco, uma vez que poderia acarretar danos à saúde do trabalhador, tanto a curto prazo como a longo prazo. Devido ao peso, o funcionário poderia deixar cair a embalagem sobre seus membros inferiores; um esforço extra poderia afetar sua coluna; o constante esforço poderia causar uma hérnia de disco; entre tantos outros exemplos.
 

Com o risco identificado de forma específica, o programa passou a levantar soluções. Oferecer equipamento/veículo para o transporte dos produtos. Acionar o fornecedor para detectar a viabilidade de oferecer embalagens com menos peso. Treinar colaboradores sobre formas adequadas de recebimento e transporte das embalagens. A solução envolveu essas e mais uma série de ações que, ao final, garantiram muito mais segurança para toda a equipe envolvida nesse trabalho. Esse é um exemplo interessante porque não podemos nos preocupar apenas com os riscos químicos - que, apesar de serem os mais relevantes para a empresa, não são os únicos.
 

É importante reforçar, também, que o Programa de Elaboração de Análises de Risco da Montana Química está inserido em uma série de processos da empresa. Medidas coletivas (como proteção contra incêndios, sistemas de para-raios, áreas de contenção, sistemas de exaustão para gases tóxicos...) e individuais (EPIs, treinamento, medicina do trabalho...), cumpridas à risca e de acordo com normativas legais, são a base de uma análise de riscos coerente.
 

Sem uma base sólida, com padronização de processos, fica impossível chegar a resultados efetivos. É comum, em empresas, colaboradores que fazem atividades diárias com base apenas em instruções orais. Nestes casos, o funcionário sabe o que tem que fazer, mas não tem um parâmetro real de que a forma como está fazendo é correta ou não. O procedimento escrito, adotado pela Montana Química, resolve isso. É uma solução simples de padronização que também pode até salvar vidas.
 

Neste caso, vale citar um importante conceito utilizado pela Montana Química no projeto: Gemba (alguns também chamam de Guemba ou Genba). É um termo japonês que significa "local real". O termo é muito usado por detetives para citar cenas de um crime, que são os "locais reais" do acontecimento. No meio empresarial, o conceito transmutou-se para significar "local real onde o valor é criado" - ou seja, o nosso "chão de fábrica". Gemba nos ensina, como gestores de segurança do trabalho, a estar fisicamente no local real onde ocorre a atividade, acompanhar o colaborador. Seja para mapear riscos, seja para analisar se as boas práticas estão sendo seguidas, seja para revisar procedimentos e processo.
 

Para a Montana Química, segurança não é um departamento ou assunto específico, é, sim, resultado de processos. Com processos bem definidos, funcionando adequadamente, os riscos caem drasticamente.
Em um cenário mais geral, proteger os colaboradores é um exemplo de um termo também muito falado atualmente no meio empresarial: o lucro sustentável - se uma organização existe para dar lucro, todas as partes envolvidas têm que ter lucro junto com ela. Inclusive os seus trabalhadores.
 

Neste Abril Verde, que cada vez mais empresas adotem posturas socialmente responsáveis, com a consciência de que investir em prevenção de acidentes de trabalho é positivo não apenas para a produtividade, mas também para a melhoria da qualidade de vida de seus colaboradores, de suas famílias, da comunidade e da sociedade.
 

*Equipe técnica da segurança do trabalho da Montana Química