“Composable Business” -- Um Futuro de Empresas Modulares e Recombináveis
21.02.2022
Por Daniel Arraes*
O termo já nos dá uma ideia do que é o Composable Business mas, se olharmos com atenção o nosso cotidiano, veremos uma série de referências em que a combinação de componentes elementares, ou simples em sua essência visam a formação de “estruturas”, “organismos” ou “compostos” capazes de realizar funções mais complexas. A natureza está repleta de exemplos desse tipo, seja na composição de átomos dentro de uma molécula, combinação de células para formação de tecidos ou órgãos, ou ainda, de forma mais banal, na combinação de indivíduos que executam funções elementares para a composição de uma sociedade mais heterogênea, como abelhas e formigas. Uma tendência atual do mundo dos negócios parece ter se inspirado nesse conceito, o chamado “Composable Business”, ou “Negócio Combinável”.
Parece ser o sonho de qualquer CEO, ter à mão um certo número de componentes elementares e combiná-los livremente para a formação de uma nova linha de negócio de forma rápida, ágil e flexível. É mais ou menos como brincar de lego.
O acesso a essas combinações pode significar redução significativa no tempo para o lançamento de um negócio, além de redução de custos e alta capacidade de adaptação. Porém, como fazer isso funcionar de forma eficiente para cada empresa? Afinal, é bem diferente ter à disposição peças de lego gigantes, ou então, aquelas bem pequenas e delicadas, que se combinam em maior número e com resultado bem melhor. Outra coisa importante é a habilidade de quem monta a peça, além da predisposição da empresa para trabalhar sob esse conceito de elementos básicos recombináveis.
Três fatores são fundamentais para que um Negócio Combinável seja viável:
-uma cultura ou pensamento voltados para o negócio combinável;
-processos de negócio combináveis;
=tecnologia combinável.
Criar uma cultura ou pensamento voltados para um negócio combinável passa pela capacidade da empresa em manter um ambiente de colaboração entre equipes, incluindo parceiros externos de negócio. Trabalhar como uma rede conectada é o nome do jogo, e isso significa que a divisão da organização em áreas específicas de atuação, ou funções, pode continuar existindo mas, com o objetivo final de compor uma equipe multidisciplinar que atua por projetos. O foco passa a estar em cada projeto colaborativo, na autonomia de decisão de cada pessoa dentro dessa equipe e no resultado que se quer almejar. Por exemplo, deixa de existir um analista que trabalha na área de mercado e passa a existir um analista cujo foco de atuação é mercado e que terá seu desempenho medido por ‘n’ projetos em que trabalha.
Quando pensamos em processos, temos que lembrar que esses elementos tão fundamentais para o funcionamento de um negócio são criados por pessoas, executados, ao menos parcialmente, também por pessoas e apoiados ou suportados por tecnologias. Logo, faz muito sentido pensar num processo como um elemento de intermediação entre as pessoas e as tecnologias ou então, como uma forma organizada pela qual as ideias humanas se materializam em ações executadas com apoios tecnológicos. Conceituado assim, um processo combinável nada mais é do que um processo desenhado por pessoas com pensamento orientado ao conceito combinável, que está criado para potencializar um trabalho em equipe colaborativo, em conceito de rede, fundamentado em um ambiente que valoriza a autonomia de decisão e que funciona em harmonia com tecnologias também combináveis.
O terceiro fator de êxito para um negócio combinável é o correto emprego de tecnologias também combináveis, compostas por módulos reaproveitáveis que se podem acoplar livremente para formar novas aplicações. O desenho abaixo, com aplicações para vários tipos de indústrias, ilustra esse conceito em que os mesmos módulos podem estar presentes na criação de aplicações muito distintas.
O resultado do uso dessas tecnologias é a criação de aplicações combináveis, formadas por Capacidades de Negócio em Pacotes, ou em inglês, “Package-Business Capabilities” (PBCs). Numa visão mais técnica, essas PBCs são aplicativos ou objetos combináveis, desenvolvidos para realizar uma função básica de negócio, e que podem ser recombinados para a montagem de novos aplicativos, reduzindo o tempo de desenvolvimento e implementação e atenuando custos. Além disso, sob esse novo paradigma, é importante pensar também na recombinação com componentes externos ao ambiente da empresa, levando-se à priorização do desenvolvimento de aplicativos combináveis e integráveis através de APIs (“API-first” ou “API-only”).
Como em toda nova prática de negócios existe aqui uma curva de maturidade a percorrer. Transformar sua empresa para que seja um negócio combinável exige ter as pessoas corretas, com formação e perfis adequados, uma mentalidade voltada para o conceito de “composable” e principalmente a adoção de tecnologias preferencialmente já criadas para este conceito. Para isso, é importante e necessário que se pense em tecnologias fundamentadas em plataformas, que servem como base para módulos que se encaixam e funcionam harmoniosamente conectados por essa plataforma comum.
Fundamental é não incorrer no erro de adaptar soluções antigas, ou criadas sob outros conceitos, para que sejam combináveis. É preciso transformar e não apenas adaptar.
*Diretor de Desenvolvimento de Negócios da FICO para América Latina