O crescimento de 2024 virá dos investimentos
07.03.2024
Por Maria Cristina Zanella*
Apesar das adversidades e dos desafios enfrentados em 2023 pela indústria de máquinas e equipamentos, refletidos na queda significativa da receita no mercado
interno, as projeções para 2024 trazem otimismo, com uma expectativa de crescimento de 3,5% na receita total.
O ano de 2023 foi surpreendido pelo bom desempenho da safra de grão que viabilizou um PIB com taxa de crescimento próxima ao do ano de 2022 (3%). Os
investimentos medidos pela formação bruta de capital fixo, por outro lado, encolheram na mesma proporção, em razão, dentre outras, da política monetária
contracionista. A indústria de máquinas e equipamentos, em 2023 encolheu pelo segundo ano consecutivo tanto em produção como em receita (7% e 11%
respectivamente).
Para o ano de 2024 a perspectiva é outra. O PIB deverá crescer menos, mas de forma mais distribuída. Fatores como a inflação controlada, taxa de juros em queda,
melhora do poder de compra das famílias, devem contribuir na melhora da atividade da indústria de transformação e da construção civil. Nas obras de infraestrutura
também haverá um melhor desempenho puxada pelas eleições municipais e programas oficiais de obras.
A ABIMAQ trabalha com um cenário de inflação em 2024 próximo da meta; redução da taxa Selic para 9% no final do ano; e um crescimento de PIB de aproximadamente 2%. Para a indústria de máquinas e equipamentos a expectativa é de crescimento da ordem de 5,5% nas receitas do mercado interno. Para as
exportações, que atingiram o recorde histórico do setor, de US$ 13,9 bilhões, um aumento de 14,6% em relação a 2022, superando o ano de 2012 que foi o melhor
resultado do setor, a expectativa é de consolidação, com um aumento projetado de 0,6%.
Os investimentos da indústria de transformação e da indústria extrativa devem registrar melhora em 2024. A trajetória de queda da taxa básica é um fator positivo,
ainda que em patamar elevado em 2024. No setor de infraestrutura, os programas do governo federal relacionados ao Minha Casa Minha Vida e o PAC também
tornam o crescimento do investimento favorável. Além disso, as eleições municipais podem motivar a continuidade de investimentos em obras públicas.
De outro lado, programas estruturais como a reforma tributária e políticas públicas direcionadas ao ganho de produtividade e modernização do parque produtivo
nacional, como a depreciação acelerada e as linhas de financiamentos a taxas de juros competitivas direcionadas para inovação, poderão ser outros fatores positivos para o crescimento das vendas de máquinas e equipamentos, exercendo papel fundamental na ampliação do estoque de capital produtivo do país, viabilizando o fortalecimento da economia e o crescimento econômico de forma sustentável.
A desoneração da folha de pagamentos deverá ser mantida no curto prazo. O Ministério da Fazenda sabe da importância desta medida. Ela tem sido primordial
em ganhos de competitividade dos setores beneficiados, tanto no mercado nacional como internacional. Houve, por parte do Governo, a sinalização deste modelo de desoneração ser substituído por outro menos oneroso aos cofres públicos, mas creditamos que isso será feito por meio de transição lenta, permitindo a
readequação gradativa dos novos custos industriais.
O anúncio da Nova Indústria Brasil, outro fator positivo, como um amplo plano de ação da neoindustrialização, favorecerá, sob vários aspectos a economia nacional e consequentemente a indústria de máquinas e equipamentos. Trata-se de uma política moderna em linha com as práticas internacionais, focadas no bem-estar
social que coloca a indústria como chave para o desenvolvimento. Estamos na expectativa de que os recursos e medidas destacados no projeto se reflitam em
ganhos de competitividade e de produtividade para os setores produtivos e em mais uma fonte de crescimento econômico sustentado e sustentável.
O ano de 2024 se apresenta, portanto, como um ano promissor ao investimento. Haverá certamente adversidades relacionadas ao cenário internacional que podem
comprometer as exportações nacionais, mas no cenário doméstico setores que vinham com desempenho mais fraco como a indústria de transformação e a
construção civil a perspectiva é de recuperação. Ademais os ambientes: econômico, de taxas de juros em queda e inflação controlada, e político com ações direcionadas à desburocratização, redução das assimetrias competitivas e ao adensamento produtivo nacional também se farão favoráveis a inversões.
*Economista e diretora de competitividade, economia e estatística da ABIMAQ – Associação Brasileira da Indústria de Máquinas