O papel feminino na gestão: avanços e desafios na indústria
02.04.2023
Por Kléber Ávila* CEO da Packseven
Embora a presença feminina na indústria seja constante desde a Revolução Industrial (século XVIII), a equidade entre cargos e salários avançou a passos lentos, com mudanças mais efetivas nas últimas décadas. O talento, o comprometimento e as habilidades necessárias para cargos de gestão são indiscutíveis, afinal são características que independem do gênero, mas ainda assim são necessários estudos para “comprovar” ao mercado os benefícios de tê-las na liderança.
A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) fez um estudo que estima um aumento do PIB de cerca de US$ 6 trilhões quando as mulheres obtiverem a equidade nos salários. Já o Fundo Monetário Internacional (FMI) afirmou que o PIB global cresceria 35% com a igualdade de gênero nas relações de trabalho.
A diversidade de gênero também tem impacto na rentabilidade das empresas, segundo o estudo “Diversity Matters”, da consultoria McKinsey. As organizações que possuem equipes executivas com equidade de gênero, segundo a pesquisa, têm 14% mais chances de superar a performance dos concorrentes. Quando os colaboradores têm a percepção sobre a equidade, a porcentagem de obter um desempenho financeiro superior ao da concorrência aumenta para 93%.
No Brasil, os avanços também são registrados por instituições renomadas. O Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) aponta a participação de 11% nos conselhos de empresas. Já o relatório Women in Business 2022, produzido pela consultoria global Grant Thornton, mostra que 38% dos cargos de liderança no Brasil são ocupados por mulheres. Em 2019, esse percentual era de apenas 25%.
As empresas têm um papel fundamental no desenvolvimento de novas lideranças. Os gestores devem estar atentos ao desempenho das colaboradoras e incentivarem o preparo de um plano de carreira. A área de RH pode estruturar programas de treinamento, com foco nas soft skills mais valorizadas para cargos de gestão. Entre as competências mapeadas com mais frequência entre a liderança feminina estão flexibilização, empatia, comunicação não violenta, além de um clima organizacional mais leve. A ampliação da capacidade de lidar com diversas demandas simultaneamente, compartilhando os desafios e criando soluções em conjunto, também é um benefício comum.
É indispensável que o discurso esteja alinhado às práticas e valores da companhia. O acesso às oportunidades de treinamento profissional, o reconhecimento e recompensas aos méritos devem ser realizados com equidade. Outro ponto importante é ouvir as colaboradoras com atenção, para entender o que elas realmente precisam, quais são os objetivos profissionais e as particularidades de cada uma.
E não vale ficar isento! Cabe ao gestor o papel de promover a diversidade e a inclusão no ambiente de trabalho, a fim de inspirar outros líderes, colaboradores, clientes e parceiros comerciais. Ao presenciar ações como uma mulher ser interrompida em uma reunião e ser sobreposta por um homem - tentando explicar exatamente o que ela estava dizendo -; a deslegitimação de falas femininas apenas por serem femininas; comentários depreciativos e preconceituosos, deve-se ter uma postura firme e ativa no repúdio a estes comportamentos.
A promoção de igualdade de gênero é um dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 das Nações Unidas, que estabelece metas para serem alcançadas até o início da próxima década. O panorama é desafiador, mas temos sete anos pela frente e somente com uma mobilização conjunta poderemos avançar de forma significativa para ampliar a presença feminina na gestão, seja na indústria ou em qualquer outro segmento.
CEO da Packseven*