Reciclagem de plástico: a perda financeira e o que pode ser feito
18.09.2018
por Liliane Bortoluci*
Notícia recente da Agência Brasil estima que se as 10,5 milhões de toneladas de resíduos sólidos de plástico produzidas anualmente no País fossem recicladas, haveria um retorno de R$ 5,7 bilhões para a economia. Os dados são do Sindicato Nacional das Empresas de Limpeza Urbana - Selurb. Em outras palavras, a reciclagem do plástico não só colabora para a preservação do meio ambiente, como também tem um potencial financeiro inestimável e que pode ser revertido em prol da própria sustentabilidade, como na criação e modernização de aterros sanitários, por exemplo.
As causas para o baixo índice de reciclagem são numerosas e complexas. A dificuldade já nasce em decorrência de problemas estruturais, como o enorme montante da população que não dispõe nem de serviços básicos de coleta em suas residências, estimado em 17 milhões de pessoas. Faltam programas de educação ambiental que ajudem a população a rever sua relação com o que consome, como consome e como descarta as sobras, em especial as embalagens plásticas. E, na medida que essa conscientização aumentar, se faz necessário facilitar o acesso aos coletores seletivos de modo que a destinação ambientalmente correta seja garantida.
Na outra ponta, a indústria da reciclagem só consegue se manter se houver medidas que garantam sua viabilidade financeira. Os resíduos plásticos têm menor valor agregado na cadeia da reciclagem comparados a outros materiais (o alumínio, por exemplo) e o processo de descontaminação muitas vezes eleva o preço da matéria-prima reciclada ao mesmo patamar da virgem.
Estudo do Sebrae estima o valor inicial em R$ 366 mil, sendo 65% do total só com a instalação da área de produção: prensa enfardadeira, moinho, extrusora, triturador, aglutinador, centrífuga, batedor, balança industrial, estantes e caminhão para coleta. Pelo menos no que tange ao aspecto industrial, a oferta é grande e de fácil acesso. Um grande número de empresas que fornecem as máquinas e equipamentos necessários para montagem da linha de produção estará presente na Plástico Brasil 2019 (25 a 29 de março, no São Paulo Expo). Para os interessados em investir no negócio de reciclagem de plástico, é uma oportunidade ímpar de encontrar tantos fornecedores reunidos num único local.
Da parte da iniciativa privada, o ideal seria que as instituições financeiras oferecessem linhas de crédito específicas para máquinas e equipamentos voltados à reciclagem, com condições especiais e juros mais baixos. O poder público, por sua vez, poderia atuar tanto na criação de incentivos financeiros para diminuir a geração de resíduos quanto na desoneração da cadeia de reciclagem. Num país com déficit primário estimado em R$ 148 bilhões e que luta para buscar o equilíbrio das contas públicas, parece inviável esperar subsídios para mais uma atividade econômica. No entanto, urge que a pauta da reciclagem seja tratada como prioridade pelo governo.
Na reportagem citada na abertura, o Selurb estima que o aumento do poder de compra da população e os altos investimentos em novas tecnologias farão a produção do plástico crescer em torno de 30% em escala mundial, num período inferior a uma década. Não se trata, portanto, de uma questão apenas financeira ou fiscal, mas sobretudo da saúde do nosso planeta.
*Diretora da Feira Plástico Brasil