Corante extraído de sementes brasileiras já pode ser usado em escala industrial para tingimento de tecidos
06.02.2018
A sustentabilidade tem sido um fator chave na decisão de compra de muitos consumidores e diversos segmentos têm se adaptado a essa realidade. No mercado da moda não tem sido diferente. Hoje já é possível ter uma roupa tingida por um corante extraído da casca da castanha, por exemplo. E não uma peça feita artesanalmente mas de uma confecção, em escala industrial. Isso ocorre graças a uma pesquisa realizada pelo Instituto SENAI de Inovação em Biossintéticos, do SENAI CETIQT, que transformou pigmentos para maquiagem, produzidos por uma empresa paranaense, em corantes para fibras têxteis.
A técnica para extrair o substrato da casca da castanha do Brasil e do baru, que se transforma em pigmento, foi desenvolvida e patenteada pela Biodiversité. Há 19 anos atuando no mercado de cosméticos, a empresa paranaense quer alçar vôos no mercado têxtil e para viabilizar seu produto neste segmento, os pesquisadores do SENAI CETIQT foram essenciais.
“A empresa nos entregou os pigmentos em forma de pó – os mesmos que utilizam para criar seus cosméticos – e, a partir deles, pesquisamos toda a viabilidade para transformá-los em um corante líquido para fibras têxteis. Com base nessas pesquisas, desenvolvemos uma formulação única, como uma receita de bolo, que pode ser aplicada seguindo uma mesma linha em três tipos de fibras: algodão, seda e lã”, diz Adriano Passos, pesquisador do Instituto SENAI de Inovação em Biossintéticos. Ele explica ainda que, pela literatura atual, recomenda-se que para tingimento dessas fibras utilizem-se corantes com fórmulas químicas e sistemas de aplicações diferentes para cada uma.
Nos laboratórios de química e na planta de beneficiamento instalados no SENAI CETIQT, os pigmentos foram utilizados em amplos aspectos. Diversos tons foram criados a partir do pigmento da castanha e do baru. É possível atingir do nude ao amarelo mais intenso, dependendo da concentração de corante que se aplique na peça. Após serem aplicados nas fibras de algodão, seda e lã, verificou-se como cada um desses tons ‘se comporta’ em cada tipo de tecido. Os corantes também passaram por testes de resistência e intensidade da cor após lavagem.
“A receita para aplicação dos corantes naturais é relativamente barata, pois utiliza tingimento a 60, 70 graus, diferentemente das demais, nas quais é preciso altas temperaturas. Isso confere economia de água, energia e tempo de processo. É uma metodologia realmente diferente e sustentável”, diz o pesquisador do CETIQT.
Um dos diferenciais dos pigmentos desenvolvidos pela Biodiversité é o fato de eles possuírem fator de proteção solar (FPS) vegetal, com proteção UVB 30 e UVA 29. E para certificar que esse FPS fosse conservado após a manipulação do pigmento e aplicação do corante, os tecidos tingidos passaram por testes no laboratório de análise de proteção UV do SENAI CETIQT e os índices foram mantidos.
“Além de nossos pigmentos doarem fator de proteção solar vegetal ao tecido, eles têm tanino, que dá mais consistência à fibra, conferindo um acabamento perfeito à peça. Muitas vezes não é preciso nem passar a roupa após a lavagem”, explica Joyce Quenca, diretora da Biodiversité.
A atuação da empresa no mercado têxtil ainda é pequena, porém com planos de expansão. Segundo a executiva, a empresa já vem iniciando algumas parcerias. “Atuamos em um mercado orgânico, temos selo vegano e estamos dentro das grandes redes de maquiagem do mundo. Agora vamos estender isso para o mercado têxtil, buscando parceiros que sigam a mesma proposta que a nossa”, comenta a diretora, que complementa: “Exportamos para toda a Europa, Japão e Tailândia e nossos parceiros nesses locais estão nos ajudando a desenvolver o mesmo trabalho que realizamos com cosméticos, a fim de conquistarmos a área têxtil”, detalha.
No Brasil, a empresa fez uma parceria com a Casulo Feliz, fabricante de seda orgânica, e realizaram em 2017 um desfile em São Paulo para apresentar sua coleção. Em março deste ano, a Biodiversité participará do Ciclo de Encontros com a Indústria, evento que será realizado pelo SENAI CETIQT na sua unidade Riachuelo. Na ocasião, os corantes para fibras têxteis serão apresentados a grandes nomes da indústria têxtil do país.